Aos 16 anos, Leonardo passou uma semana trancado dentro de um motel em Fortaleza, com turistas. “Fui na segunda-feira, retornei no sábado. Descansei em casa, minha mãe preocupada. Eu disse que não tinha tempo”, relata. Acordou domingo à tarde, dor no corpo, febre alta, espirrando sangue. “Minha gripe parecia incurável, pelo tempo que passei cheirando cocaína.”
Passava a semana nas esquinas do bairro onde mora, na periferia de Fortaleza, e no fim de semana fazia pista na avenida Beira Mar. “Tinha mais cliente estrangeiro”, conta Leonardo. “Tive um cliente da Itália, tava hospedado num hotel na beira-mar, cinco estrelas. Passei três meses com ele.”
Amigos o levaram para a prostituição aos 13 anos. Começou a faturar. “Esse dinheiro não servia pra nada, porque eu gastava, me drogava direto. Se ganhasse 40 reais no programa, pegava em cocaína e cheirava logo tudo, esperava outro programa, fazia mais 40, comprava mais cocaína. Chegava na esquina às 8 horas, voltava pra casa às sete da manhã.”
Aos 16 anos, saiu de casa e voltou três semanas depois. Dormia na rua, drogado. A mãe não sabia dos michês, só desconfiava ser gay. Ele dizia estar trabalhando, assim justificava o dinheiro. Comprou roupa de mulher. Queria ser travesti.
Nas festas de fim de ano de 2010, avisada por uma vizinha, a mãe o procurou na esquina do bairro. O pai não se aproximou. Em 2011, foi abordado por educadores de rua da Rede Aquarela, o programa de busca ativa gerido pela Prefeitura de Fortaleza. Incluído no Projeto ViraVida, do Sesi, largou as drogas e a prostituição. Em dezembro deste ano termina o curso profissionalizante. “O ViraVida virou mesmo a minha vida”. (MK)
AUTOR: O POVO
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