domingo, 29 de maio de 2011

CARNE DE SOL DO SERIDÓ




Às margens do riacho do “Manhoso” que corre paralelo à rodovia Jardim do Seridó-Caicó, despejando suas águas no açude Itans, viveu dois grandes produtores de carne de sol daquela região: Sr. Berré, e um pouco mais a baixo, os Gregórios.
Eles começavam a abater os animais na manhã cedo da quinta-feira, para atender à feira de Caicó no sábado, onde o produto era distribuído entre os atacadistas locais e alguns vindos de Campina Grande e Natal. Os dois marchantes eram muito disputados pela boa qualidade da carne que produziam.
O processo de fabricação de ambos era semelhante e em certa oportunidade fui visitar o estabelecimento de Berré, onde pude acompanhar passo a passo o desenrolar do sistema que usava desde a infraestrutura até o produto final.
As instalações eram muito simples, tinha o mínimo necessário para a produção dessa atividade. Uma grande latada bem arejada, coberta com ramos de oiticica criando uma meia sombra, longos varais para estender as mantas, uma bancada rústica de madeira onde as peças eram trabalhadas, e como ele era um exímio conhecedor da anatomia animal sabia muito bem separar os “coxões”.
Essas peças depois de retiradas e levadas para bancada eram desdobradas em mantas. A “chã de dentro”, o “patim”, a “alcatra,” a “chã de fora,” e o “filé”, são todas carnes traseiras e macias, as dianteiras como são duras, recebiam um tratamento diferente.
As mantas de carne depois de prontas eram salgadas, enroladas no próprio couro do boi, no final da tarde, eram estendidas nos varais, onde ficavam durante toda a noite, salmorando e recebendo a brisa suave do Seridó para ter uma secagem controlada.
No dia seguinte, as mantas nos varais eram viradas e permaneciam ali por várias horas, depois eram enfardadas em esteiras de carnaúba para serem enviadas ao mercado. Era nesse tempo de espera que elas recebiam através da cobertura da latada, um pouco da luz solar para acelerar o processo de desidratação.
Na ocasião, Berré, com a sua experiência acumulada ao longo dos anos nesta atividade, me segredou que três grandes fatores definem o sabor da carne do gado do Seridó, a alimentação do boi (o capim-panasco), a brisa seca das noites e um sal grosso de primeira qualidade adquirido em Macau.
Berré foi um dos grandes fornecedores de Carne de Sol na região do Seridó,mas teve de encerrar as suas atividades por conta das sucessivas secas que ocorriam na região, mudando-se para o agreste à procura de melhores condições de vida e lá encerrou seus dias na atividade comercial.

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