Um dia após o seu aniversário de 80 anos, ao acordar, ele curtia sem sair da cama, a felicidade vivida durante a festa comemorativa.
Foram bastante prazerosas as manifestações de carinho e amor demonstradas pelos familiares e amigos.
Ele se sentia muito querido.
Gozando de excelente saúde, estava feliz.
Mas, de repente, vem à sua mente uma indagação:
A longevidade é premio ou castigo?
Ele lera recentemente que, de acordo com as ultimas estatísticas, a média de vida do brasileiro era de 73 anos.
Estava então com sete anos alem da média.
Tendo nascido na primeira metade do século passado, teve o privilégio de participar de grandes momentos da humanidade.
Bons e maus.
Mesmo vivendo distante do foco do conflito, viveu as angustias e temores da Segunda Guerra Mundial.
Viu o nascimento da televisão no Brasil, fez parte da geração que nos anos 60 modificou o comportamento da sociedade mundial.
Vibrou com os grandes momentos dos esportes, da musica, do teatro e das artes em geral.
E o que dizer do vertiginoso avanço das conquistas tecnológicas que de repente surpreendeu o mundo.
Mas, se sente muito triste quando olha em seu redor e percebe o comportamento da sociedade em que vive.
A ética que rege a postura dos lideres políticos, de seus amigos e até de alguns familiares mais queridos o incomoda.
Na sua avaliação o mundo passa por um processo de total “idiotização” e, no alto dos seus 80 anos, ele nada pode fazer.
E nem deve.
O seu tempo de fazer as coisas já passou.
A sociedade e até a Constituição determinaram que, desde os 70 anos ele não mais devia trabalhar.
Os seus proventos lhes seriam pagos, régia e mensalmente, sem que ele nada mais tivesse que fazer.
E era exatamente isso o que, em alguns momentos, o angustiava.
Até quando ele teria que assistir a atos praticados, até mesmo no seio de sua família, sem que tivesse o direito de interferir?
De repente uma luz o conduziu à paz interior.
Ele recordou os versos do samba de Gilberto Gil:
“Se Deus me dá o direito de viver sem fazer nada, que eu faça tudo por merecer.”
E compreendeu que cada um, independentemente de sua idade, deve viver sempre o seu momento.
Vida não tem tempo determinado para ser vivida.
O tempo de se viver é sempre o agora.
Jovem ou idoso, não importa.
O que a vale é o uso que você faz do seu viver.
A dignidade de cada ato praticado.
Enquanto houver dignidade a vida deve ser vivida. Não importa por quanto tempo.
E a dignidade do viver depende única e exclusivamente de cada um.
Então ele saiu da cama e com dignidade foi iniciar mais um dia de sua vida.
Fonte-Arnoldochagas
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