A prisão de idosos envolvidos em crimes de fraude em consignados tornou-se uma rotina, a maioria utiliza documentos falsificados pelos golpistas FOTO: ARQUIVO
Vítimas e suspeitos. É assim que a Polícia tem se deparado, cada vez mais, com idosos sendo lesados ou envolvidos nos golpes em empréstimos consignados, aqueles em que as parcelas do pagamento são descontadas diretamente da conta corrente ou da aposentadoria.
O delito se espalhou pelo País afora, e, em Fortaleza, as prisões de pessoas de idade avançada cooptadas pelas quadrilhas não param de acontecer. Na Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), unidades da Polícia Civil especializada em apurar crimes do gênero, os flagrantes acontecem todas as semanas.
Do começo do ano até hoje já são mais de 20 pessoas presas quando estavam na ´boca do caixa´ tentando sacar dinheiro de empréstimos fechados em nome das vítimas, também aposentados, em geral.
Com o uso de documentos falsificados, as quadrilhas conseguem obter os
empréstimos nos bancos particulares. Os nomes dos correntistas que viram ´alvo´ da maracutaia são obtidos por diversas formas, entre eles, a internet. Porém, não é raro que os próprios aposentados forneçam seus dados pessoais.
Ainda em 2011, autoridades ligadas à esfera da segurança bancária, já estimavam que, a cada hora, dois aposentados tinham seu nome envolvido na trapaça dos empréstimos consignados obtidos de forma fraudulenta. De lá para cá, essa taxa de vítimas quintuplicou.
Por todo o País, milhares de aposentados são vítimas do golpe que acontece silenciosamente e o cidadão prejudicado só vai saber que foi lesado quando descobre o desconto das parcelas em seu benefício, no fim de cada mês. Começa então, uma grande ´dor de cabeça´ para evitar o prejuízo financeiro. E se o crime não for rapidamente combatido, a dívida do aposentado aumenta velozmente como uma verdadeira ´bola de neve´.
Aliciamento
Assim como os idosos são as principais vítimas do golpe do consignado, também eles estão sendo aliciados pelas quadrilhas para que atuarem como ´laranjas´.
Em troca de quantias irrisórias, que não chegam a representar 10 por cento dos valores sacados das contas alheias, anciãos têm se envolvido nos golpes. Há duas semanas, um homem de 74 anos foi preso, em flagrante, por inspetores da DDF dentro de uma agência bancária, no Centro. Com documentos falsos, ele ia sacar R$ 6 mil, mas ficaria com apenas R$ 500,00.
Saiba mais
Quadrilhas de estelionatários utilizam sites oficiais para obter os dados pessoais dos aposentados e seus beneficiários. Com base em tais informações, fabricam documentos falsos e aliciam idosos para se passarem pelos verdadeiros correntistas.
Os anciãos cooptados pelos criminosos vão até a agência bancária sacar o dinheiro e, em troca, recebem pequenas quantias que não chegam sequer a dez por cento do valor do empréstimo. As vítimas, quase sempre, só tomam conhecimento de que foram lesadas quando os descontos em folha são observados no extrato. Segundo a Polícia, muitas vítimas quando vão prestar queixa na delegacia já tiveram várias parcelas descontadas indevidamente.
O delegado Jaime Linhares orienta que o primeiro passo para quem foi surpreendido em tal situação é registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.) e, em seguida, procurar o INSS ou outra fonte pagadora e requisitar a sustação do empréstimo. Depois, fazer a contestação junto ao banco. Em muitos casos, a Justiça pode ser acionada e o banco obrigado a pagar indenização pelo dano financeiro.
Flagradas dentro do banco
Do começo do ano até a semana passada, pelo menos 20 pessoas foram presas e autuadas, em flagrante delito, pelo crime de estelionato, quando tentavam sacar o dinheiro obtido através de fraudes em empréstimos consignados nos bancos locais.
Maria Gregório Teixeira da Silva, 51, foi detida numa agência da Caixa com RG com nome falso. Maria Gisleide Barbosa da Silva, 47, foi capturada dentro de um banco a poucos metros da DDF. Lúcia Estela Pessoa, 58, usava uma identidade falsa para sacar R$ 12 mil no Bradesco FOTOS: HELOSA ARAÚJO / DIVULGAÇÃO / KELLY FREITAS
Segundo o delegado Jaime Paula Pessoa Linhares, praticamente todos os dias da semana a DDF registra queixas de pessoas que descobrem ter tido seu nome usado pelos golpistas em operações fraudulentas de empréstimos descontado em folha de pagamento de salários ou de benefícios da Previdência Social. São centenas de B.Os. por ano, segundo o delegado.
E as prisões acontecem também de forma persistente. Várias mulheres, a maioria de idade já avançada, acabaram indo parar na delegacia ao serem flagradas utilizando documentos forjados para sacar o dinheiro em nome de vítimas.
Prisões
Foi o que aconteceu no dia 17 de janeiro último, quando inspetores da DDF prenderam a dona de casa Lúcia Estela Pereira, 58, dentro da agência do Bradesco da Rua Bárbara de Alencar, no Centro. Ela usava documentos falsos com o nome de Terezinha Rezi do Nascimento e tentava sacar a quantia de R$ 12 mil em nome da aposentada. Com ela, foi detido seu parceiro de golpe, Pedro Philip Magalhães, que se passava por filho da mulher. Lúcia disse que, por sua participação no crime, receberia apenas R$ 500,00 dos R$ 12 mil.
No dia 16 de julho passado, Maria Gregório Teixeira Alves, 51, foi presa pelo mesmo tipo de golpe. Tentava sacar um empréstimo na agência da Caixa Econômica da Avenida Pontes Vieira, no bairro Dionísio Torres, usando uma RG falsa com o nome da correntista Sônia Silva de Paulo.
Já Maria Gisleide Barbosa da Silva, 47, foi apanhada pela Polícia no Centro, quando tentava sacar R$ 22 mil num banco.
Justiça ordena indenizações
A Justiça tem se posicionado de maneira firme na proteção aos clientes bancários prejudicados pela ação dos estelionatários e, em muitas sentenças, os bancos são obrigados a pagar indenização aos consumidores que tiveram seu nome indevidamente usado em empréstimos consignados ou outras operações financeiras fraudulentas.
Exemplo disso foi divulgado pelo site de notícias do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará na última segunda-feira (12), quando foi relatado que o juiz da Comarca de Aurora (460 Km de Fortaleza), José Flávio Bezerra Morais, decidiu condenar o Banco Santander a pagar uma indenização no valor de R$ 7 mil a um cliente vítima de fraude.
Segundo a informação, a vítima do crime (identidade preservada), perdeu, em 2012, seus documentos e registrou o fato em Boletim de Ocorrência.
Contudo, os documentos do cliente acabaram sendo utilizados por golpistas que conseguiram obter no Santander um empréstimo consignado. A vítima somente descobriu o fato meses depois, ao tentar fazer uma compra no comércio e não conseguiu pois seu nome estava no cadastro do Serasa, devido ao empréstimo não honrado. O banco não apresentou contestação e, por isto, foi decretada a revelia.
Fraudadores usam cadastro do INSS
"Abriram as porteiras demais e os golpes vieram à galope".
A declaração é do delegado Jaime Paula Pessoa Linhares, titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações, responsável pela abertura de inquéritos que investigam os crimes de estelionato através de empréstimos consignados fraudulentos. Segundo ele, os golpistas conseguem obter os dados das vítimas através de pesquisa feita na internet. Eles utilizam o site do INSS para obter informações dos aposentados através do seu respectivo detalhamento de crédito.
Delegado Jaime Paula Pessoa Linhares, da DDF, explica que os estelionatários obtêm os dados das vítimas através do detalhamento de crédito FOTO: KID JÚNIOR
É através desse detalhamento de crédito que o estelionatário descobre, o CPF e o nome da mãe do beneficiário. Descobre também qual o valor de sua aposentadoria e o percentual (margem) que pode ser comprometido com consignados.
Aos poucos
Com estas informações, os estelionatários escolhem as vítimas e aliciam idosos com idades próximas ou iguais às das vítimas, falsificam documentos e levam os ´laranjas´ ao banco para receber o dinheiro depois que o empréstimo é obtido fraudulentamente. "Eles (os criminosos) preferem fazer empréstimos com pequenas parcelas a serem descontadas, pois assim, a vítima não percebe o desconto imediatamente e, muitas vezes, quando percebe isso já pagou várias prestações. Além disso, preferem fazer mil empréstimos com parcelas de R$ 10,00, do que dez com parcelas de R$ 1 mil. A chance do golpe ser imediatamente descoberto é bem menor", explica.
Linhares ressalta a facilidade que os estelionatários encontram na hora de agir, pois conseguem aliciar idosos para ir buscar o dinheiro em troca de pequenas quantias. Normalmente, quando as prisões acontecem, os idosos estão acompanhados de um fraudador. "Eles acompanham o ´laranja´ para que este não vá embora com o dinheiro todo do empréstimo. Em geral, os idosos recebem quantias ínfimas para se passar pelo verdadeiro aposentado. Eles vendem a aparência", detalha.
Outro aspecto importante analisado pelo titular da DDF diz respeito à disseminação de correspondentes e representantes bancários pelo País, que negociam e oficializam os empréstimos em troca de percentuais por cada valor obtido em cada operação. E cada representante bancário (firmas terceirizadas) contrata uma leva de corretores autônomos que se espalham pelas ruas em busca de atrair tomadores de consignados, a maioria, cidadãos aposentados já idosos e aqueles menos esclarecidos. Esses representantes bancários ou escritórios credenciados recebem as senhas do banco para autorizar os empréstimos.
AUTOR: DN
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