sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SEM ÁGUA, BOIS PARECEM 'CHORAR' NO SERTÃO DO CEARÁ


Animais de fazendas da cidade de Crateús, a 354 km de Fortaleza, morrem devido à seca na região, considerada uma das piores dos últimos 40 anos. A situação é relatada por quem vive e quem passa na região do Sertão de Crateús. De acordo com produtor rural Jefferson Alves Bezerra, 32, os animais passam sede e fome e nenhuma ajuda do governo estadual chega aos pequenos produtores do município. "Os bois estão fracos e, muitos, quase não se levantam. Há alguns que até parecem estar chorando. Dá para perceber que escorrem lágrimas dos olhos dos bichos", afirma.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, atualmente, 178 municípios do Ceará estão em situação de emergência por causa da estiagem, entre eles está Crateús. Apenas seis cidades do estado não constam na lista do governo. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), divulgado em janeiro, a probabilidade é de 45% de chuvas abaixo da média.

O drama do interior do estado é visto também por quem está só de passagem nesse cenário. ''Os bois agonizam enquanto os parasitas os devoram ainda com vida. Os criadores estão entrando em depressão e boiadas inteiras estão sendo dizimadas”, conta o fotógrafo Wellington Macedo. Ele visitou o município no dia 10 de fevereiro e registrou a realidade do local em fotos e no vídeo acima e enviou ao VC no G1.

'Lágrima'
A secreção no olho do gado magro que dramatiza a situação em Crateúse parece ser um “choro”, um pedido de socorro é consequência da estiagem, segundo o veterinário Amorim Sobreira, da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri). Para o especialista, a lágrima pode ter duas causas.

“Do ponto de vista fisiológico, a secreção pode ser um lacrimejamento natural pelo qual o organismo tenta compensar a 'secura' do ambiente. Por outro lado, indo para o lado patológico, podemos estar diante de um processo inicial de conjuntivite provocada também pela poeira do ambiente”, explica.

Fracos, bois têm de receber alimento (Foto: Wellington Macedo/Arquivo Pessoal)

Apesar de a quadra chuvosa ter começado oficialmente no estado e a primeira semana ter tido precipitações na maioria das cidades cearenses, o tempo deve mudar, de acordo com a meteorologista Meiry Sakamoto, da Funceme. “Para os próximos dias, a tendência é de diminuição de chuvas em todo estado. Podem ter casos isolados nas faixas litorâneas, áreas serranas e no sul do estado”, afirma.

Nesta sexta-feira (22), a fundação vai divulgar um novo prognóstico sobre as chuvas no Ceará. “Vamos mostrar se tendência apontada em janeiro vai se manter ou não”.

Dessa forma, os reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) na região continuam com um volume abaixo de 30%. O açude Carnaubal, um dos principais que abastecem a cidade, está com apenas 8,28% da capacidade. Dos nove reservatórios que abastecem os municípios da região do Sertão de Crateús, dois estão na faixa de 20%. Com pouca chuva e água, o pasto que dava vida ao gado é escasso.

Ajuda
Enquanto a triste rotina não muda na maioria dos municípios do interior do estado, os produtores procuram ajuda. Segundo Jefferson Alves Bezerra, os agricultores e protuores locais procuraram a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), mas sem sucesso. “Procuramos o órgão, mas existe muita burocracia. Eles dão preferência aos fazendeiros que possuem parceria com o governo. Várias propriedades, inclusive a minha, estão sem acompanhamento de técnicos e os remédios estão sendo aplicados aleatoriamente”.

De acordo com o produtor, nenhum plano emergencial foi apresentado no município. “Creio que a presença e ação de zootecnistas e médicos veterinários poderá salvar muitos animais”, ressalta. Segundo com a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Agrário, que responde pela Ematerce, os fazendeiros devem procurar o escritório da empresa em Crateús ou no município onde está localizada a propriedade e informar sobre o problema.

A secretaria também afirmou que é obrigação da Ematerce prestar esclarecimentos para os produtores e procurar ajudá-los. A SDA disse ainda que os medicamentos são custeados pelos produtores e o Estado não tem a obrigação de fornecê-los.

A Ematerce informa que ''jamais'' dará preferência, em termos de assistência técnica e extensão rural, aos grandes produtores em detrimento dos agricultores familiares, seu público-alvo e que executa as atividades coordenadas SDA.

AUTOR: G1/CE

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