O novo delegado geral da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, Fábio Rogério Silva, 42, inicia oficialmente suas atividades nessa segunda-feira (30) e já elegeu, pelo menos, dois objetivos que pretende alcançar: unificar a corporação e combater o tráfico de drogas.
A julgar pelos resultados alcançados pelos seus antecessores, entretanto, a tarefa não será fácil. A classe policial do RN vive em hiato há bastante tempo: por um lado, conflitos de interesse político fragilizam a instituição; por outro, sente desprestígio pelas condições de trabalho, amplamente denunciadas pela imprensa, mas sem solução definitiva pelos tutores do Estado.
Silva foi eleito com 89 votos entre os novos delegados que compõem o Conselho da Polícia Civil. Assume a Delegacia Geral da Polícia Civil num momento de greve, a quarta no último quadriênio. Além disso, a instituição padece por falta de aparelhamento adequado. Sobram presos nas delegacias e faltam condições mínimas de investigações.
Para se ter ideia dos desafios, até primeiro de julho próximo, ele precisa, por determinação do Ministério da Justiça, dar cabo a 1.100 processos que se avolumam nos escaninhos da burocracia do Estado. Crimes, num geral, datados de quase 20 anos, prestes a prescrever.
Ainda assim, a experiência de quem tem 17 anos nas forças policiais o anima a contornar o quadro. Há 13 anos ele está no Rio Grande do Norte - é natural de Recife (PE), onde começou seus trabalhos na área.
Tendo passado por diversas delegacias da capital e do interior e sendo o único delegado de polícia a compor a Força Nacional, Fábio Rogério Silva falou ao Nominuto sobre os objetivos norteadores de sua gestão, a saber: combate ao crime organizado, preservação da vida, unificação da polícia e as polêmicas alterações do novo Código de Processo Penal.
Nominuto: Fale um pouco sobre sua ação na Força Nacional
Fábio Rogério Silva: É uma unidade que veio para dar apoio e suporte aos estados da federação, que quando solicitado entra como colaboradora. No último ano, atuei no estado de Alagoas, o mais violento do país, que pediu ajuda à Força para resolver esse impasse.
E agora você volta ao RN e encontra a categoria em greve, inflexível às negociações. Como pretende contornar esse quadro?
Acredito numa solução boa para a greve, tanto para a classe quanto para o governo. Apelo que os colegas entendam que vivemos um novo momento na administração. Temos condições de reestruturar a polícia.
De que maneira?
Veja, já estou fazendo contatos com Brasília. O fato de eu ter integrado a Força Nacional teve repercussão boa na capital federal, pelo fato de eu ser o único delegado de polícia integrante desse movimento. Com essa porta aberta, acredito na abertura de convênios, de onde vem todo o dinheiro e possibilidades de projetos e criação de novas delegacias.
Como esse trânsito em Brasília vai conseguir trazer para o Rio Grande do Norte resultados práticos na repressão às drogas. O OXI, por exemplo, já chegou aqui. Quais seus planos contra essa nova droga?
Um dos meus objetivos é valorizar a vida através do combate à grande incidência de homicídios que está ocorrendo no estado. A banalização do crime de homicídio, queremos reprimir e incitar, e a criação da divisão de homicidios, que terá recursos para investigar e identificar autoria dos crimes. Logicamente que sabemos que o tráfico de drogas anda junto com os homícidios. A gente vai intensificar a repressão.Vamos fazer o nosso trabalho, tirar os delinqüentes e marginais da sociedade e colocar na cadeia para arcar por seus crimes. Caso se rebelarem, melhor para polícia. Entre o policial e o bandido, vai sobrar para o bandido.
A partir de 4 de julho passam a vigorar as novas alterações do Código de Processo Penal. A mais polêmica delas se refere ao desafogamento do sistema carcerário, tornando afiancável crimes de até quatro anos. Como é retroativa, a medida pode colocar até 50 mil crimininosos nas ruas. Como você encara essas modificações?
Elas favoreceram a criminiladidade, sem dúvida, às pessoas que são ligadas ao crimes, que serão favorecidas pela lei. Sou contrário. Deveria ter sido mais rigoroso. Para ficar preso hoje deve cometer crime gravíssimo. A quantidade de pessoal que vai cometer crime e que não vai dar em nada vai ser imensa. Aumentará a sensação de impunidade da sociedade.
O senhor mencionou que pretende unificar a Polícia Civil...
Há muito tempo a polícia tem integrantes em grupos, e isso não traz nenhum resultado interno para instituição - falo dos delegados. Temos a possibilidade de resgatar isso. Tenho treze anos e meio em delegacia. Conheço as deficiências que meus colegas e amigos reivindicam. Tenho consciência das dificuldades e vou tentar resolver.
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